SANTOS E BEATOS

São Basílio Magno

Basílio Magno (grego: Μέγας Βασίλειος), São Basílio Magno (329-379) – santo, arcebispo de Cesareia da Capadócia, na Ásia Menor, insigne personagem eclesiástico, teólogo e um dos maiores Padres da Igreja. A Igreja merecidamente lhe deu o título de “Grande” (Magno). Ele verdadeiramente foi Grande, principalmente em três âmbitos de sua vida: ele foi Grande pastor da Igreja, Grande legislador da vida monástica e Grande em sua santidade.

Basílio nasceu em torno do ano 329 em Cesareia, centro administrativo da Capadócia, e procedia de uma ilustre família que se destacava na aristocracia e pelo seu patrimônio, como também pela sua profissão de fé cristã. Seu avô e sua avó por parte do pai, durante as perseguições do imperador Diocleciano foram obrigados a se esconder nas matas do Ponto por sete anos. A mãe de São Basílio, Emélia, era filha de um mártir. O pai, também chamado Basílio, era advogado e notável mestre de retórica. Na família de São Basílio eram dez filhos, cinco filhos e cinco filhas, dos quais cinco foram contados como santos: sua irmã Macrina tornou-se para Basílio modelo de vida ascética, foi uma das primeiras na Ásia Menor a viver a vida monástica comunitária, tornando-se superiora das comunidades monásticas femininas, que posteriormente foram chamadas de “basilianas”. Um dos irmãos de São Basílio, Gregório, tornou-se bispo de Nissa e conhecido teólogo. Os primeiros anos de vida de São Basílio transcorreram nas posses que pertenciam a seus pais nas margens do rio Íris, onde ele foi educado sob a guia de sua mãe e da avó Macrina, mulher de elevado nível cultural, que guardou na memória a lembrança sobre o egrégio bispo de Capadócia, Gregório.

Início da vida monástica

Basílio recebeu sua formação inicial sob a guia de seu pai. Depois estudou em Constantinopla e em seguida em Atenas, onde permaneceu por quatro ou cinco anos, na companhia de Gregório de Nazianzo, com quem travou uma sólida amizade, que perdurou até o final de sua vida. Retornando de Atenas, Basílio ocupou-se com o ensino de retórica em Cesareia. Isso, porém, durou pouco tempo: ocorreram importantes mudanças em sua vida. Ele veio a conhecer o movimento ascético-monástico, que se difundiu também na sua região, na Ásia Menor. A companhia de muitos praticantes da vida monástica influenciou com que também ele aderisse ao movimento monástico. Porém ele quis inicialmente conhecer mais profundamente esse modo de vida. Com esse objetivo, ele empreendeu uma longa viagem ao Egito, Síria, Palestina e Mesopotâmia, observando de perto as particularidades do modo ascético de vida, que era na sua maioria solitário. Ao retornar, Basílio decidiu incorporar em sua vida a experiência e os conhecimentos adquiridos. Atendo-se aos preceitos do Evangelho, ele vendeu parte de seus bens, distribuiu-o aos pobres, recolhendo-se daí a um lugar calmo e solitário, às margens do margens do rio Íris (hoje seu nome é Yesilirmark, na Turquia), a fim de principiar um novo modo de vida, uma radical vida evangélica de oração e obras de caridade.

Vida para a Igreja

A vida de Basilio no ermo não durou longo tempo. A Igreja o chamava para o apostolado. Naquele tempo a Igreja no Oriente vivia tempos conturbados de lutas internas, provocadas por diferenças doutrinais, sobretudo ´por heresias, a maior das quais era o arianismo. No ano de 360, a convite de seu bispo, Basílio tomou parte no Concílio de Constantinopla, que tratou de questões de fé que abalaram a Igreja nas lutas arianas. Após o Concílio, Basílio decidiu se consagrar plenamente para o serviço da Igreja e para a defesa da fé. Tais circunstâncias obrigaram-no a se distanciar parcialmente de seus planos iniciais de se dedicar à vida de ascese na solidão. No entanto, a obra de Basílio no tocante à vida religiosa não se interrompeu. Mesmo mais tarde, já sendo bispo, Basílio Magno manteve o constante vínculo com as suas comunidades monásticas, que observavam as suas Regras.

No ano de 365, o novo bispo de Cesareia, Eusébio, sagrou Basílio presbítero. Após a morte de Eusébio, ele se tornou seu sucessor no bispado de Cesareia, que naquele tempo já era uma grande catedral, tendo muitos bispos dependentes, chamados sufragâneos. Tornando-se bispo, Basílio dedicou-se à defesa da fé. São Basílio e São Atanásio foram os dois gigantes daquele tempo na defesa da fé cristã no Oriente. Basílio agia de forma intensa e destemida: ele prega, polemiza, escreve, vaja por todo o império, trava contendas com os teólogos arianos e com os outros bispos. Ficou célebre o episódio como Basílio se opôs ao próprio imperador Valente, na defesa da verdadeira fé.

Ação social

Outro aspecto da personalidade e da atividade de São Basílio foi a assistência social. Ele é o primeiro bispo conhecido da Igreja que desenvolveu uma teoria sobre a ação social da Igreja. Os primeiros passos nesse sentido ele deu ainda quando era presbítero. No ano 369, a região da Capadócia e Ponto foi devastada pelo flagelo da fome, em consequência de uma forte seca, que causaram colheitas reduzidas, a explosão dos preços e as práticas nefastas dos especuladores. Basílio ficou profundamente comovido com a situação do povo. Ele se dedicou então em distribuir alimentos, fundar abrigos para os pobres. Toda a sua obra era decorrente de sua compreensão da caridade evangélica: para ele, a caridade deve necessariamente materializar-se na misericórdia e na obra caritativa. Basílio pensava que a prática da caridade é dever não só de cada cristão em particular, mas de toda a Igreja – de seus líderes espirituais, dos bispos. Como base do fundamento teórico para a ação social, São Basílio desenvolveu todo um importante discurso social. Um marcante exemplo disso são as homilias Deus não é o criador do mal, Em tempo da fome e seca, Derrubarei meus depósitos, Sobre os ricos, etc. Todas as suas preocupações sociais e beneficentes materializaram-se na “Basilíade”, um grande complexo de construções para os pobres e para outros fins beneficentes, o qual, segundo as fontes, foi construído nos arredores de Cesareia e que foi chamado de cidade dos pobres. Esse foi o fruto da atividade tutelada pelo próprio Basílio e pelos seus monges. Segundo o testemunho de São Gregório de Nazianzo (no discurso fúnebre de São Basílio), esse complexo abrangia um leprosário, abrigos para forasteiros e vários empreendimentos para os destituídos, que deveriam ser assistidos pelo governo, o que, no entanto, não acontecia. Tudo foi construído com coletas, graças à ação e ao exemplo de São Basílio Magno. Os seus monges tratavam de tudo; mas o trabalho mais desprezível ele reservava para si próprio: tratar dos leprosos.

Escritos de São Basílio

Como uma pessoa de nível cultural elevado, Basílio era versado não só em ciências humanas, mas também nas ciências divinas, na medida em que ele se embebia da sabedoria divina diretamente da Sagrada Escritura, ele interpretava a ciência do Evangelho e do mundo na forma escrita. As obras de São Basílio são um grande tesouro que ele legou, não só para a Igreja Oriental, mas também para toda a Igreja universal. Seus escritos compõem uma preciosa fonte de ciência e espiritualidade, disponível para a Igreja de todos os tempos. As obras de São Basílio podem ser divididas da seguinte forma:

1. Obras dogmáticas: seu conteúdo se refere a questões teológicas ou à doutrina da fé da Igreja. Elas são apresentadas como elaborações doutrinais sobre a Santíssima Trindade (teologia trinitária), sobre o Espírito Santo (Pneumatologia) e sobre a Igreja (Eclesiologia).

2. Homilias. São Basílio tinha o dom da palavra, era um orador extraordinário. Chegaram até nós algumas de suas homilias na forma escrita. Dividem-se elas em duas conformações: o Hexámeron – coleção de nove homilias sobre a criação na forma de comentários filosófico-teológicos sobre as primeiras páginas da Bíblia, e Sobre os salmos: coleção de 15 homilias sobre vários salmos. Para Basílio Magno, o livro dos salmos é a parte mais importante do Antigo Testamento. Os salmos servem tanto para a ciência sacra, na medida em que eles contêm profundos ensinamentos morais, como também são formas de oração, em toda a sua diversidade: louvor e glória a Deus, orações penitenciais, contemplação das obras de Deus. Os salmos são a base para as orações litúrgicas da Igreja, partes da Divina Liturgia. Encontram-se também 23 outras homilias sobre diversos temas: panegíricos ou louvores aos mártires, sobre a penitência, contra os avarentos, contra as imprecações, etc.

3. Obras ascéticas: parte dessa categoria que descreve a doutrina moral e espiritual para os cristãos, são as obras: Sobre o juízo, Sobre a fé, Sobre o batismo, Ética (ou “Regras Morais”), Grande Asketikon (ou “Obras Extensas”) e Pequeno Asketikon (ou “Obras Breves”). As duas últimas formam um manual fundamental para a vida monástica na forma comunitária, que predominava no Oriente, mas que tinha também grande influência no Ocidente. Elas não são regras de vida religiosa, no pleno sentido. São antes instruções espirituais, que São Basílio foi haurir diretamente da Sagrada Escritura para aqueles que buscam uma vida de verdadeira perfeição cristã.

4. Obras pedagógicas. Por exemplo, Conselho aos jovens é uma breve obra, na qual Basílio discorre sobre a relação entre a literatura grega e a sua formulação cristã. Trata-se de como os jovens cristãos, fazendo uma seleção correta podem obter proveito da leitura dos clássicos greco-latinos, dos filósofos, poetas e outros autores não cristãos. Basílio Magno tem a intenção de explicar que algumas obras de autores pagãos são úteis e podem ajudar na formação moral de jovens cristãos.

5. Cartas. Conservaram-se mais de 350 cartas de São Basílio, de vários conteúdos: teológicos, de espiritualidade, pedidos dirigidos a autoridades, conselhos a diversas pessoas, cartas de amizade, etc. As cartas de São Basílio são fontes preciosas para a compreensão de sua personalidade, e também para compreender a situação histórica da Igreja no Oriente no século IV, a organização das eparquias, disciplina eclesiástica, etc.


São Josafat Kuntsevytch

            São Josafat Kuntsevytch foi mártir pela união da Igreja de Cristo. Por esse ideal ele derramou seu sangue, sacrificou sua vida. Além disso, São Josafat contribuiu para a renovação da vida religiosa brasiliana em terras eslavas e, junto com o metropolita José Veliamyn Rutski, fundou a Ordem de São Basílio Magno centralizada, que hoje com justiça denomina-se Ordem Basiliana de São Josafat.

            São Josafat, por origem e procedência, era ucraniano, visto que nasceu no território da Ucrânia, embora essas terras pertencessem então ao Principado Polono-Lituano. Mas ele com propriedade pode ser chamado santo de dois outros povos. Ele é santo da Lituânia, pelo fato de ter ele se tornado monge no mosteiro da Santíssima Trindade em Vilna (hoje Vilnius, capital da Lituânia), e a partir desse mosteiro ele contribuiu para a renovação da vida religiosa no leste europeu. Ele é também santo do povo da Bielorússia (hoje Belarus) e foi martirizado em Vitebsk. Enfim, em decorrência de sua canonização, São Josafat é santo de toda a Igreja universal de Cristo.

            São Josafat Kuntsevytch, no batismo denominado João, nasceu na cidade de Volodymyr, na região noroeste da Ucrânia, naquele tempo um centro comercial importante do principado Polono-Lituano. A data exata de seu nascimento não é documentalmente confirmada, mas acredita-se que provavelmente seja o ano de 1580. Seus pais chamavam-se Gabriel e Marina. Seu pai era um pequeno comerciante de cereais e conselheiro da cidade. Sua mãe ocupava-se com a educação dos filhos; ela inseriu no coração de João uma profunda piedade. A família dos Kuntsevytch, como a maioria na região, era de confissão ortodoxa. Porém João Kuntsevytch, já desde a sua juventude abraçou a Igreja uniata (greco-católica), que se identifica pelo culto de Deus no rito oriental e está em união com a Igreja católica romana. Aos treze ou catorze anos, João Kuntsevytch foi enviado pelos seus pais a Vilnius, a fim de trabalhar com o rico mercador Jacinto Popovytch, aperfeiçoar-se na profissão do comércio.

            Naquela cidade, cosmopolita do ponto de vista religioso, onde coexistiam diversas confissões cristãs, João entrou numa fase de escolhas decisivas em sua vida. Na sua consciência definia-se uma questão decisiva: qual era a verdadeira Igreja de Cristo, antes da divisão no cisma? Devia ele permanecer fiel à Igreja ortodoxa de sua família? Como o resultado de suas tantas reflexões, de leituras e conversas com teólogos, ele podia tornar-se católico, sem afastar-se de sua tradição cristãs oriental. Exatamente naquele tempo, no ano de 1596, os bispos da metropolita de Kyiv, reunidos em sínodo em Brest, não distante de Vilnius, proclamaram a sua fé católica, reconhecendo o Papa como chefe da Igreja, mas conservando a tradição oriental de origem bizantina, que era para eles muito cara. A união de Brest foi aquela luz, que impeliu João a dar o seu passo decisivo na vida. Segundo testemunhas oculares de sua vida, João rezava muito, pedindo a luz divina, chegando à conclusão que seu coração orientava-se para a Igreja católica de rito oriental. Já naqueles dias ele se convenceu que a Igreja de Cristo deve constituir, segundo a vontade de nosso Salvador, um só rebanho, conduzido por um só e único pastor. Desde aquele tempo, João começou a visitar a igreja da Santíssima Trindade em Vilnius. Na igreja estavam religiosos do mosteiro da Santíssima Trindade, que seguiam a espiritualidade de São Basílio Magno. Aos poucos, João tornou-se um frequentador muito assíduo e ativo das celebrações litúrgicas: ele cantava, era leitor e tangia os sinos. Sua participação ativa naquele templo compeliu-o a dar mais um passo na vida.

Entrada no mosteiro

            Visitando a igreja da Santíssima Trindade, João Kuntsevytch tomou a decisão de entrar no mosteiro e viver a sua vida no estado religioso. O mosteiro seguia a Regra de São Basílio Magno como base de sua espiritualidade: era autônomo, isto é, não reunido em confederação ou Ordem. Assim era um dos modelos da vida religiosa no Oriente. Mas o mosteiro da Santíssima Trindade estava em total decadência: os religiosos que nele viviam eram poucos, e a disciplina interna era pouco observada.

            No ano de 1604, o jovem encontrou um quarto no canto do mosteiro e lá ele se recolheu, dedicando-se exclusivamente à oração, penitência e estudo. Era o período de seu noviciado, tempo de preparação para a consagração religiosa. Não havia no mosteiro nem estrutura que favorecesse a sua formação, nem exemplos que pudesse seguir. Pelo contrário, João via nos monges do mosteiro apenas contratestemunhos. Mas Josafat (nome que ele adotou ao ingressar no mosteiro) pelo seu esforço pessoal, adquiriu uma formação muito sólida. Dessa forma, ele consagrou três anos exclusivamente para a sua preparação à missão que devia enfrentar. Naquele ambiente, Josafat dedicava-se à oração, leituras, sobretudo do patrimônio dos santos Padres, e à vida dos santos. Grande importância na sua formação tiveram também os livros litúrgicos, que se tornaram para ele manuais, tanto para a oração, como para o estudo de teologia. É muito provável que Josafat, após o ingresso no mosteiro, fez pelo menos um curso básico de teologia junto aos professores da Academia de Vilnius. Tendo todo esse fundamento, ele se tornou logo uma respeitável personalidade no seu meio do ponto de vista da ciência religiosa e teológica. Suas homilias fascinavam as pessoas, ele sabia conversar em alto nível com a elite da cidade, tratar de questões doutrinais da fé com as autoridades, e também conversar com as pessoas simples, explicar-lhes de maneira acessível os complexos aspectos dogmáticos da fé.

            Com a entrada de Josafat no mosteiro, na história da Igreja uniata e da Ordem de São Basílio Magno, destaca-se uma outra importante pessoa: José Veliamyn Rutski. A sua procedência de uma família aristocrata, permitiu-lhe estudar em Roma, onde ele conquistou grande autoridade, mesmo perante o Papa. O Papa Clemente VIII lhe propôs passar para o rito bizantino e assumir uma grande missão na sua pátria: consolidar a união de Brest, renovar a Igreja uniata que estava em grande decadência por causa da formação deficiente do clero. Rutski logo tornou-se grande amigo, coirmão e colaborador de Josafat na obra da restauração da vida monástica e da Igreja oriental. Ambos, Josafat como sacerdote e Rutski como bispo, fundaram, no ano de 1617, a Congregação da Santíssima Trindade, que reunia 5 mosteiros em uma confederação. A partir de 1743, a reunião dos mosteiros centralizados com clara identidade e estrutura sólida começou a se denominar Ordem de São Basílio Magno.

            São Josafat como sacerdote e bispo

            Josafat foi ordenado sacerdote no ano de 1608 ou no inicio de 1609. Convém ressaltar que a atividade pastoral de Josafat como sacerdote e bispo se desenvolveu não entre ucranianos, mas na Lituânia e na Bielorússia. Porém o território do principado Polono-Lituano pertencia, no âmbito eclesiástico, à metropolita de Kyiv. Como sacerdote e como bispo, Josafat encarnava admiravelmente a imagem do “bom pastor” que conhece e ama suas ovelhas, defende-as dos lobos e, por fim, oferece a sua vida por elas. Suas pregações atraíam ouvintes de todas as camadas da sociedade. Vinham ouvi-lo pessoas até de outras confissões, por exemplo, ortodoxos e protestantes, porque em suas palavras percebiam ecos da verdadeira força do Evangelho. Um dos relevantes elementos da atividade pastoral de Josafat era o santo sacramento da Penitência. Pode-se dizer que ele renovou no seu meio a prática da confissão frequente, que naqueles tempos era bastante abandonada entre os cristãos orientais. Para Josafat, o santo sacramento da Penitência era um instrumento de renovação da vida cristã entre o povo.

            Josafat foi nomeado bispo no ano de 1617, inicialmente como coadjutor do arcebispo de Polotsk na Bielorússia, e no ano seguinte ele tornou-se arcebispo titular de Polotsk. O metropolita Rutsky de Kyiv, conhecendo o potencial de Josafat, quis agregá-lo a um objetivo maior, isto é, à renovação da Igreja católica em terras ucranianas. Josafat, na sua humildade relutou em aceitar essa missão, abandonar a tranquilidade do mosteiro, para enfrentar a turbulenta realidade da Igreja, que naqueles tempos vivia profundas divisões e conflitos. Contudo, assumindo a eparquia, Josafat de imediato pôs-se a trabalhar: uma tarefa longa e penosa, que importava na restauração material e espiritual da Igreja.

            Grande missão de São Josafat no campo pastoral era a sua pregação e sua ação em prol da unidade da Igreja. As palavras de Cristo, para que todos sejam um, tornaram-se o seu lema desde a sua juventude. Tornando-se sacerdote, ele conduziu m intenso diálogo com os ortodoxos, tomando parte nas discussões com os seus líderes, incluindo fortes polêmicas. Testemunho disso são as suas obras polemistas Sobre o primado de Pedro e Sobre o batismo de Volodymyr. Quanto à ação ecumênica e uniata de Josafat, testemunhas atestam que ele se guiava pelo respeito, que já então se destacava com o espírito do Concílio Vaticano II. Ele jamais promovia confrontos com os ortodoxos. Pelo contrário, suas iniciativas em prol da unidade sempre se fundamentavam sobre a misericórdia. Josafat agia com discernimento e afabilidade, nunca se permitia vingar-se. Mesmo nas polêmicas, ele não perdia a tranquilidade. Ele alegrava-se com as conversões, entristecia-se com a obstinação, embora sempre se colocasse em defesa da fé. Ele sabia muito bem separar o erro da pessoa que errava: ele guiava-se pelo respeito a todos, pela caridade cristã.

            A morte como mártir

            São Josafat acreditava no diálogo e no entendimento mútuo. Ele via que na base dos desentendimentos, das altercações e dos conflitos estava a ignorância mútua, o distanciamento das partes, a falta de contatos, a difusão de falsas notícias e acusações infundadas. Tudo isso podia ser superado pelo diálogo e esclarecimento da verdade. Por esse motivo, ele discorria nas homilias sobre a união da Igreja, fomentava encontros e debates, escrevia cartas, lia documentos da Igreja. Ele não se fechava em si, mas saia ao encontro do povo e conversava com as pessoas. Seu método pastoral incluía o contato imediato com o povo. Josafat falava com todos, não excluía ninguém, nem os ortodoxos, nem os protestantes, nem as elites, nem as pessoas simples.

            Tendo assumido a arquieparquia de Polotsk, Josafat notou que havia nela muita desordem. Além disso, ele sofreu forte oposição, promovida pelos líderes ortodoxos. Essa oposição foi se tornando cada vez mais clara: surgiram conflitos, Josafat foi várias vezes ameaçado de morte. O arcebispo tomou consciência que Cristo exige dele a mais alta prova, o derradeiro sacrifício, a prova de sangue pela união da Igreja. Ele manifestou a sua plena prontidão em aceitar a vontade de Deus, pedindo ser digno de aceitar a morte por Cristo, pela fé, pela união e pelo supremo chefe da Igreja, Santo Padre, o Papa.

            A hora do supremo sacrifício veio no dia 12 de novembro de 1623. Era domingo, quando Josafat visitava a vizinha eparquia de Vitebsk. Ele e seus assistentes deixavam a residência episcopal para celebrar na igreja a Divina Liturgia, quando encontraram a multidão exaltada, a qual logo, bradando palavras de ódio, forçava a entrada na residência, quando um indivíduo da turba brandindo um machado atingiu a cabeça do arcebispo, tirando-lhe a vida. Dessa forma culminou o sacrifício de vida de Josafat Kuntsevytch, uma vida oferecida pela unidade da Igreja de Cristo. Pretendendo que o seu corpo nunca fosse encontrado, os seus algozes ataram-no a uma grande pedra e atiraram-no no rio. O corpo de Josafat só foi encontrado cinco dias depois. Após a sua morte aconteceram muitos sinais e milagres, sobretudo inumeráveis conversões, inclusive de seus algozes e adversários mortais.

            O corpo de Josafat, após inúmeros transtornos, jaz hoje na basílica de São Pedro em Roma. O solene translado dos restos mortais do santo hieromártir à basílica do Vaticano, sob o altar de São Basílio Magno ocorreu no dia 25 de novembro de 1963, durante a segunda secção do Concílio Vaticano II, na presença do Papa Paulo VI.

            As primeiras iniciativas de elevar Josafat Kuntsevytch à glória da santidade começaram logo após a sua morte e se coroaram de êxito 240 anos após, no ano de 1867, com a solene inclusão de seu nome no rol dos santos da Igreja católica. Antes disso, ele fora proclamado beato pelo Papa Urbano VIII, no ano de 1643, 20 anos após a sua morte. E no dia 29 de junho de 1867, no dia do santo apóstolo Pedro, o Papa Pio IX proclamou Josafat hieromártir da santa Igreja.


Bem-aventurado Josafat Kocylovskyj

            Josafat Kocylovskyj nasceu aos 3 de março de 1876 na aldeia Pakoshivka (hoje no território da Polonia). Concluiu os estudos de teologia no ano de 1907 em Roma. Obteve dois graus acadêmicos; em 1903 se tornou doutor em filosofia e, no ano de 1907, doutor em teologia na Pontifícia Universidade de São Tomás. Tinha domínio da língua latina e também do alemão, italiano e francês. Após a sua graduação acadêmica recebeu as Ordens do presbiterado. Logo ele foi indicado vice-reitor e professor de teologia no seminário de Stanislaviv.

            No dia 2 de outubro de 1911 entrou no noviciado da Ordem Basiliana. Por três anos foi professor nas casas de estudos basilianas em Lavriv e Lviv. Ocupou-se com o trabalho pedagógico também nos anos da Primeira Guerra Mundial. Com o avanço russo, retirou-se para a Áustria: residia inicialmente em Viena, posteriormente organizou um seminário de emigração em Kromeriz, na Morávia, onde exerceu o cargo de reitor. No dia 23 de setembro de 1917, foi ordenado bispo em Peremysl pelo metropolita Andrey Sheptytsky Em setembro de 1945 foi levado à prisão pelo governo soviético, que tinha por objetivo liquidar a Igreja greco-católica ucraniana. Foi daí transferido de um cárcere a outro, acusado de ativismo anti-soviético. Nessas difíceis condições, o bispo foi acometido de pneumonia e, já gravemente doente, foi recluído no campo de concentração na aldeia de Tchapaivka, nos arredores de Kyiv.

            Todos aqueles que guardaram na memória o bispo Kotselovskey, destacam a sua humanidade e humildade com a qual ele cumpria o trabalho mais pesado, procurando amenizar para os outros as insustentáveis condições de vida. Nas vésperas da festa do santo mártir Josafat, fez alguns dias de retiro pessoal, prevendo já o seu fim. Morreu como mártir da fé aos 17 de novembro de 1947. Posteriormente, os padres das cidades de Rudky e Stryi transferiram secretamente o corpo do bispo ao cemitério de Letchakiv em Lviv, depositando-o num jazigo polonês. Atualmente os restos mortais do bispo encontram-se na igreja da Anunciação da Mãe de Deus em Stryi.

            No dia 12 de abril de 2002, na presença do Papa João Paulo II no Vaticano, foi lido o documento, proclamando Josafat Kocylovskyj como mártir da Igreja de Cristo. O rito da beatificação teve lugar no dia 27 de junho de 2001 em Lviv durante a Santa Liturgia no rito bizantino, com a presença do Papa João Paulo II.


Beato Paulo Goidytch

            Pavlo Goidytch nasceu aos 17 de julho de 1888 na aldeia Ruski Pekliany, nos arredores de Prešov (hoje Eslováquia). Sentindo o chamado de Deus para o sacerdócio, entrou no Seminário Teológico de Prešov. Os superiores percebendo as suas capacidades, enviaram-no para os estudos superiores em Budapest. No dia 27 de agosto de 1911, junto com o seu irmão mais velho, Cornélio, ele recebe o santo sacramento da Ordem presbiteral.

            Como sacerdote talentoso e piedoso, ele se ocupa com a formação dos jovens, com a pastoral e com o trabalho na secretaria episcopal. No entanto, ele sentiu-se atraído à vida religiosa na humildade. No dia 20 de julho de 1922 ele ingressa no mosteiro dos Padres Basilianos no “Monte monástico”, ao lado de Mukacevo, e no dia 10 de março de 1924 professa os primeiros votos religiosos. Imediatamente após os votos, os superiores nomeiam-no diretor espiritual do internado juvenil em Uzhhorod, confiando-lhe também a supervisão sobre o mosteiro em Malé Berezne. Além disso, foi-lhe confiado dirigir as missões populares na Ucrânia Transcarpátia e no leste da Eslováquia. Ainda antes dos votos perpétuos, no dia 27 de setembro de 1926, a Sé Apostólica nomeou o padre Paulo como administrador da eparquia de Prešov. Neste mesmo ano, na festa de São Josafat, no mosteiro de Krekhiv, ele fez os votos monásticos perpétuos, e no dia 19 de fevereiro de 1927, o Papa Pio XI nomeou-o bispo titular, e depois, no final de 1932, bispo eparca de Prešov.

            O bispo Paulo Goidytch, OSBM organizou várias irmandades religiosas, desenvolveu atividades missionárias e editoriais, e dava grande atenção à formação intelectual e espiritual do clero. Destacava-se ele pela modéstia, humildade, piedade e por uma singular bondade. Na sua primeira carta pastoral, ele prometeu: “Venho sobretudo a vós, pobres, para vos consolar, amparar e vos ajudar a carregar o vosso jugo da pobreza”. Ele quis destacar o seguinte lema: “Deus é amor – amemo-lo!”. Ele encarnou esse lema ao longo de todo o seu ministério episcopal. Visitava os doentes, pobres e órfãos e sempre lhes trazia algum presentinho. Durante a Segunda Guerra Mundial ele livrou centenas de pessoas dos campos de concentração, protegeu os judeus perante as perseguições, acolhia os prófugos.

            No ano de 1948, os comunistas ocuparam o território da Tchecoslováquia e iniciaram uma forte perseguição contra a Igreja greco-católica. Desde então estendeu-se para o bispo Paulo um extenso caminho de espinhos. Na noite de 13 a 14 de abril de 1950, a milícia comunista recluiu nos campos de concentração quase todo o clero greco-católico, e no dia 28 de abril aprisionou também o bispo Paulo. A polícia secreta recolheu-o numa localidade isolada, onde eram realizados falsos tribunais, torturas físicas e psicológicas. No dia 15 de janeiro de 1951 condenaram-no à prisão perpétua. A via sacra do bispo estendeu-se por vários cárceres da Tchecoslováquia. Por todo esse tempo ninguém ouviu de seus lábios queixas ou lamúrias. Certa vez disse ele: “Todo esse sofrimento eu aceitei de boa vontade, e me causa dor somente o fato de que muitos meus coirmãos e fiéis sofrem por sua fé”. O bispo Paulo morreu aos 17 de julho de 1960 na prisão de Leopold, nos arredores de Bratislava (hoje Eslováquia).

            O bispo Paulo Goidytch nos mostrou na prática o Evangelho de Jesus Cristo, graças à sua bondade e fidelidade à fé até à morte. Ele foi o bom pastor, mestre e bispo dedicado à sua missão. Esse religioso escolheu o caminho não de riquezas e honrarias desta vida, não como o rico da parábola escolheu seguir o caminho da humildade e amor, o caminho da bondade. Ele foi “a pessoa de um coração de ouro”, foi o “pai dos órfãos e dos pobres”, mártir da fé e grande devoto da Imaculada Virgem Maria e do Sagrado Coração de Jesus.

            No dia 4 de novembro de 2001, em Roma, o Papa João Paulo II proclamou-o beato. A santa Igreja de Cristo celebra a memória do beato Paulo Goidytch como prisioneiro do amor, defensor da fé, exemplo de fidelidade ao seu Criador, à sua Igreja e ao seu povo.


Beato Joaquim Senkivskey

            Joaquim Senkivskey nasceu aos 2 de maio de 1896 em Velyki Hai, nos arredores de Ternopil, Ucrânia, na numerosa família dos camponeses Simão e Antonina. Seu pai, camponês experiente, que trabalhava num terreno de 40 acres, cuidava de numerosos animais domésticos, mantinha um grande apiário, que contava com trezentas colmeias. Era um trabalho árduo, que incluía participação de todos os membros da família. Por isso, todos os filhos cresciam no amor ao trabalho, com senso do dever e respeito às pessoas. O pai do futuro brasiliano, Simeão Senkivskey não economizava recursos para os estudos e formação de seus filhos. Eram eles criados no espírito cristão e também no espírito de patriotismo nacionalista. Tais atitudes e objetivos de vida do pai constituíam bom exemplo para os filhos e para os demais familiares. Compreende-se então como dois de seus filhos, João (depois religioso da Ordem de São Basílio Magno, com o nome de Joaquim) e Valdomiro decidiram tornar-se sacerdotes: João Senkivskey perfez seus estudos de teologia em Lviv e, no dia 4 de dezembro, foi ordenado sacerdote na catedral de São Jorge. Ele continuou seus estudos de Teologia em Insbruck (Áustria), onde obteve o grau de doutor em teologia.

Sua virtuosa alma almejava continuar seguindo a Cristo. Assim, no dia 10 de agosto de 1923, ele ingressou no noviciado dos Padres Basilianos em Krekhiv. De de relatos de seus colegas de noviciado, tomamos conhecimento que ele foi um noviço exemplar, que com sua vida e suas atitudes era digno de ser imitado por outros. Ele era admirado por todos pela sua piedade natural, sua modéstia e sua operosidade. A partir do ano de 1927, padre Joaquim trabalhava na escola superior do mosteiro de Santo Onofre em Lavriv: assumiu o posto de professor de estudos humanísticos e de retórica (ensinava língua ucraniana, latim, história geral, geografia e química).

            Após diversos serviços em vários mosteiros, padre Joaquim foi, no ano de 1939, nomeado superior do mosteiro em Drohobytch. Desde os primeiros dias de sua estada em Drohobytch ele contava com as estimas da cidade toda. Era sempre afável, com sorriso no rosto. Percebia-se logo que não havia nenhuma maldade naquela pessoa e, sob a sua inata modéstia e suas atitudes, estava um verdadeiro servo de Deus. Com a vinda do Padre Joaquim a Drohobytch, intensificaram-se muito as atividades pastorais, com as grandes missões avivou-se a vida religiosa, as atividades da paróquia enriqueceram-se com novos elementos. Porém, aquele período foi marcado pela ocupação da Halytchyná pelas forças soviéticas, que se apoderaram de todos os bens eclesiásticos, os mosteiros foram fechados, e os religiosos foram pela violência lançados na rua ou levados ao cativeiro, ou simplesmente exterminados. Porém, tudo isso não quebrou a persistência e a tenacidade dos religiosos de Drohobytch, nenhum deles abandonou o mosteiro. A popularidade e as pregações do padre Joaquim, que plantavam nos corações dos fiéis o profundo amor a Cristo e à Mãe de Deus, se constituíam em sal nos olhos dos comunistas. Nas suas homilias, a igreja estava sempre cheia de fiéis. O padre Joaquim sabia com as suas pregações cativar o povo em perene elevação de espírito e na esperança de um melhor amanhã.

            O professor padre Senkivskey não poucas vezes era convocado pelo regime para “conversas”, nas quais exigiam que ele sustasse as atividades pastorais no mosteiro. Mas ele, com maior empenho e persistência instruía o povo para que persistisse na fidelidade a Cristo e à Igreja. Na manhã de 26 de junho de 1941, o padre Joaquim Senkivskey celebrou a sua última Divina Liturgia na vida, e antes do meio dia, os comunistas bolcheviques prenderam-no junto com padre Severiano Baranyk, superior do mosteiro de Drohobych. Alguns dias antes, os fiéis tentaram persuadir os padres para que o quanto antes saíssem do mosteiro e esperassem passar o perigo. O padre Joaquim respondeu: “Não vou me esconder, sem a vontade de Deus um só fio de cabelo não cairá de minha cabeça”.

            No dia 29 de junho de 1941, domingo de manhã, após a retirada do exército comunista frente à entrada na cidade do exército alemão, os moradores correram ao Conselho de Justiça e ao presídio, com a esperança de libertar seus familiares, mas encontraram somente centenas de corpos mutilados. Em uma das celas no subsolo, entre outras coisas, foi encontrado o breviário do padre Baranyk e uma fotografia do padre Senkivskey. Mas o corpo do padre Joaquim Senkivskey ninguém encontrou. Testemunhas oculares contam que seu corpo foi cozido num caldeirão e dado para ser comido pelos presos!

            O padre Joaquim Senkivskey permanece na memória dos fiéis, como o mais belo exemplo de sacerdote de Deus, que ficou ao lado de seus fiéis até o fim. O bem-aventurado hieromártir Joaquim Senkivskey foi beatificado pelo Papa João Paulo II no dia 27 de junho de 2001.


Beato Severiano Baranyk

          Severiano Baranyk nasceu aos 18 de julho de 1889 na cidade de Univ, Ucrânia. Ingressou na Ordem de São Basílio Magno no dia 24 de agosto de 1904 em Krekhiv. Após concluir o noviciado, ele emitiu os seus primeiros votos religiosos (16 de maio de 1907), e no dia 21 de setembro professou os votos perpétuos. Recebeu santo sacramento da Ordem aos 14 de fevereiro de 1915. Os primeiros anos de sacerdócio transcorreram no mosteiro de Zhovkva, onde exercia o múnus de catequista, pároco, diretor de uma organização para jovens e profissionais. Além disso, foi redator dos periódicos “Misionar”, “Nosso Amigo” e também dirigia retiros para os consagrados e para os fiéis. Testemunhos atestam que ele era um sacerdote alegre, sincero e caridoso.

            No ano de 1932, padre Severiano foi nomeado superior do mosteiro de Drohobytch e pároco da igreja Santíssima Trindade na mesma cidade. Sendo grande amigo dos jovens, padre Severiano era um entusiasta pelos esportes e também um ativo agente social. Após a ocupação da Ucrânia pelo exército soviético, a vida religiosa sofreu muito no âmbito externo, embora na sua interioridade e ela adquiriu aspectos de maior autenticidade. Os agentes comunistas proibiram ao padre Severiano sair fora do mosteiro, motivando isso pelas exigências do serviço militar. Os fiéis aconselhavam os padres saírem fora do mosteiro o quanto mais depressa e esperar passar essa hora difícil, mas os padres não queriam nem mesmo ouvir isso, respondendo: “se não nos acharem no mosteiro, poderão se vingar sobre vós. É melhor que soframos o que vier”. Os padres se confessaram e esperaram pacientemente as iminentes torturas. Os agentes da NKVD levaram os padres Severiano Baranyk e Joaquim Senkivskei ao cárcere de Drohobytch no dia 26 de junho de 1941. Depois disso ninguém mais os viu vivos. Uma das testemunhas daquele lugar, recorda: “Eu vi atrás do campanário uma grande vala que fora camuflada e coberta com areia. A vala era fresca, porque pessoas do povo abriram-na com as mãos e removeram os corpos das pessoas assassinadas. Ao lado da vala estava um cobertor debaixo do qual estava o corpo do padre Severiano Baranyk, OSBM, que estava muito mutilado em consequência das torturas na prisão”. “Meu pai me contou que o peito do padre estava talhado com uma cruz”. O lugar onde o corpo do padre foi sepultado não é ainda conhecido, mas muitos testemunhos afirmam que ele foi sepultado numa vala no cemitério da cidade de Drohobytch.

            O beato hieromártir Severiano Baranyk foi beatificado pelo Papa João Paulo II no dia 27 de junho de 2001.


Beato Vitaly Bairak

            Vitaly Bairak nasceu aos 24 de fevereiro de 1907 na aldeia de Schvaikivski , na região de Ternopil (Ucrânia). Ingressou na Ordem de São Basílio Magno no dia 4 de setembro de 1024. Foi ordenado sacerdote aos 13 de agosto de 1933. Foi professor no Instituto Missionário de São Josafat junto ao mosteiro dos Padres Basilianos em Buchach, onde exerceu o múnus de diretor espiritual e dirigiu agremiações paroquiais na paróquia junto ao mosteiro. Nos anos 1935-1941 trabalhou na pastoral na paróquia Sagrado Coração de Cristo junto ao mosteiro de Zhovkva. Além disso, foi designado como assistente do superior e diretor da Congregação Mariana e do Apostolado de Oração. Viajava com frequência para dirigir missões populares e retiros em várias localidades da Ucrânia. A partir do ano de 1941 exerceu o cargo de superior do mosteiro de Drohobytch.

            Gratos, os fiéis respeitavam e amavam este simpático religioso, não só pelos seus ensinamentos e exemplo de vida, mas também pela sua capacidade e talento em ouvir, sustentar, dar conselhos espirituais apropriados, etc. Seu amor à Igreja e ao seu povo inspirava os outros padres e religiosos.

            Por decisão do tribunal militar dos comunistas, ele foi condenado a 8 anos de privação de liberdade. Sua “culpa” estava no fato de que ele era um sacerdote zeloso, incansável soldado de Cristo. Testemunhas oculares contam que o padre foi muito espancado no cárcere, e daí o levaram à cela já inconsciente. Em consequências dessas torturas, o padre Vital morreu um pouco antes da Páscoa do ano 1946, na prisão “Brigida” em Drohobytch.

            O beato mártir Vital Bairak foi beatificado pelo Papa João Paulo II, aos 27 de setembro de 2001.